Em Niterói (RJ), há uma linda Igreja erguida, há mais de 300 anos, que necessita uma escadaria para ser alcançada. Fica na importante rua que faz referência, em seu nome, ao mesmo dogma católico: a Conceição. Um enorme painel de azulejos cobre a sua fachada e homenageia a figura de Maria. Lembra as imagens de Santo Antônio na frente das casas de famílias com ancestralidade portuguesa. Maria e o Santo casamenteiro vêm proteger os fiéis que adentram o local e comunicar, com alguma peculiaridade no uso da sua linguagem, a mensagem cristã, ao menos do ponto de vista do católico que reproduz os valores de sua Igreja.
O painel possui cores e fica bastante destacado, ocupando posição centralizada na altura e largura do prédio. Revela a Graça de Maria. Populariza o culto da Mãe de Deus na medida em que deixa , para a admiração dos olhos dos transeuntes, uma imagem que poderia ser comparada a um outdoor, não fosse uma certa sacralidade. A ostentação da Virgem pode não agradar a fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, estes que não cultuam imagens. E que também não aceitam e até atacam a aproximação, no Brasil tradicional, entre o catolicismo e os rituais afro-brasileiros. Mas o povo católico, à exceção daquele que prega um tipo de ação afirmativa da sua própria prática religiosa (como é o caso de alguns membros da Renovação Carismática Católica), não oferece obstáculos (e até se relaciona muito bem) à comunicação da Conceição na figura (conforme descrita aqui) da Mãe Santíssima.
Santo Antônio pode vir a ser uma importante referência para o uso de imagens religiosas no Brasil. Lembrando a sua personalidade marcante e algumas das suas características, então os azulejos nas casas portuguesas não poderiam referir-se a outro Santo que não ele. Existem painéis de São Jorge, e também outros, mas apenas Antônio é um Santo casamenteiro e protetor dos pobres. Opõe, para um relacionamento, duas famílias que fundam um lar abençoado pelo Santo em questão, o que faz casamentos. Protege e inclui socialmente os pedintes que batem à porta e miram a sua face gloriosa.. Os excluídos tornam-se incluídos por um ritual que celebra a família em torno do Santo de origem portuguesa. São sugestões , de caráter religioso, para excluídos e incluídos. Antes, são rituais que, a partir do dualismo casa e rua, levam ao universo da casa sem mais obrigações com a ancestralidade do que as que deveria ter com Antônio. E levam ao mundo da rua que pode ser usufruído sem abrir mão das relações. Se a figura de Santo Antônio falasse, posicionada na parede externa da casa, diria: sejam abençoados aqueles que alimentam relações e também os muitos pobres.
Trata-se de uma forma de comunicação peculiar. É interessante mostrar, às pessoas da rua, um Antônio representado em formato bidimensional. Mais admirável ainda é ver, bastante ampliado, o formato, sem perder o nexo , agora representando Nossa Senhora Conceição. Fica expandido o efeito causado por alguns poucos azulejos ajuntados. De longe, praticamente já não é possível reparar os riscos, que os separam, passando o todo a valer mais do que as partes. Vale, para a imagem do Santo casamenteiro, a seguinte percepção: se um único azulejo fosse suficiente, este teria que ser disposto parecendo mais um losango do que um quadrado. Como fosse um balão tradicional de festas juninas, Antônio receberia destaque. Mais azulejos, agora voltando a eles em uma quantidade considerável, para chegar a formar um painel podem provocar uma distorção na figura, que se tornaria desproporcional. Não é o que ocorre com a Conceição, cada vez mais bonita conforme aumenta de tamanho. Quanto ao caráter bidimensional, vale lembrar que uma forma grande pode causar maior “presença” da Santa, o que praticamente não caberia em apenas quatro linhas de uma dimensão. Fica evidente, então, a complexidade do enquadramento e que faz, mais bela ainda, uma imagem “traduzida” em “cores próprias”. Igualmente, Antônio fica mais belo com esta “tradução”, embora a imagem em gesso, se possível em tamanho próximo ao humano, seja insuperável.
A Nossa Senhora da Conceição fica bem no alto, como se mirasse a praia. De fato, mais adiante, é possível ver o mar. Na Igreja que faz uma homenagem a ela, sob o seu teto, é confortável viver em comunidade. É como sentir-se em casa. Ou, na imaginação, em casa, devotar-lhe os pensamentos é como estar lá. Seja adorando o lindo painel ou ficando sentado , em um dos bancos da nave, admirando o altar.
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O painel possui cores e fica bastante destacado, ocupando posição centralizada na altura e largura do prédio. Revela a Graça de Maria. Populariza o culto da Mãe de Deus na medida em que deixa , para a admiração dos olhos dos transeuntes, uma imagem que poderia ser comparada a um outdoor, não fosse uma certa sacralidade. A ostentação da Virgem pode não agradar a fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, estes que não cultuam imagens. E que também não aceitam e até atacam a aproximação, no Brasil tradicional, entre o catolicismo e os rituais afro-brasileiros. Mas o povo católico, à exceção daquele que prega um tipo de ação afirmativa da sua própria prática religiosa (como é o caso de alguns membros da Renovação Carismática Católica), não oferece obstáculos (e até se relaciona muito bem) à comunicação da Conceição na figura (conforme descrita aqui) da Mãe Santíssima.
Santo Antônio pode vir a ser uma importante referência para o uso de imagens religiosas no Brasil. Lembrando a sua personalidade marcante e algumas das suas características, então os azulejos nas casas portuguesas não poderiam referir-se a outro Santo que não ele. Existem painéis de São Jorge, e também outros, mas apenas Antônio é um Santo casamenteiro e protetor dos pobres. Opõe, para um relacionamento, duas famílias que fundam um lar abençoado pelo Santo em questão, o que faz casamentos. Protege e inclui socialmente os pedintes que batem à porta e miram a sua face gloriosa.. Os excluídos tornam-se incluídos por um ritual que celebra a família em torno do Santo de origem portuguesa. São sugestões , de caráter religioso, para excluídos e incluídos. Antes, são rituais que, a partir do dualismo casa e rua, levam ao universo da casa sem mais obrigações com a ancestralidade do que as que deveria ter com Antônio. E levam ao mundo da rua que pode ser usufruído sem abrir mão das relações. Se a figura de Santo Antônio falasse, posicionada na parede externa da casa, diria: sejam abençoados aqueles que alimentam relações e também os muitos pobres.
Trata-se de uma forma de comunicação peculiar. É interessante mostrar, às pessoas da rua, um Antônio representado em formato bidimensional. Mais admirável ainda é ver, bastante ampliado, o formato, sem perder o nexo , agora representando Nossa Senhora Conceição. Fica expandido o efeito causado por alguns poucos azulejos ajuntados. De longe, praticamente já não é possível reparar os riscos, que os separam, passando o todo a valer mais do que as partes. Vale, para a imagem do Santo casamenteiro, a seguinte percepção: se um único azulejo fosse suficiente, este teria que ser disposto parecendo mais um losango do que um quadrado. Como fosse um balão tradicional de festas juninas, Antônio receberia destaque. Mais azulejos, agora voltando a eles em uma quantidade considerável, para chegar a formar um painel podem provocar uma distorção na figura, que se tornaria desproporcional. Não é o que ocorre com a Conceição, cada vez mais bonita conforme aumenta de tamanho. Quanto ao caráter bidimensional, vale lembrar que uma forma grande pode causar maior “presença” da Santa, o que praticamente não caberia em apenas quatro linhas de uma dimensão. Fica evidente, então, a complexidade do enquadramento e que faz, mais bela ainda, uma imagem “traduzida” em “cores próprias”. Igualmente, Antônio fica mais belo com esta “tradução”, embora a imagem em gesso, se possível em tamanho próximo ao humano, seja insuperável.
A Nossa Senhora da Conceição fica bem no alto, como se mirasse a praia. De fato, mais adiante, é possível ver o mar. Na Igreja que faz uma homenagem a ela, sob o seu teto, é confortável viver em comunidade. É como sentir-se em casa. Ou, na imaginação, em casa, devotar-lhe os pensamentos é como estar lá. Seja adorando o lindo painel ou ficando sentado , em um dos bancos da nave, admirando o altar.
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Guilherme Valle, sociólogo
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