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Assim, no espírito das Bem-aventuranças, se esforcem para purificar o coração de toda inclinação e avidez de posse e de dominação, como peregrinos e forasteiros a caminho da casa do Pai. - Regra OFS nº 11

segunda-feira, 29 de março de 2010

A habilidade política de Lula e Aécio

Partindo da idéia de que Lula tentará retornar em 2014, o que é questionável, um cenário eleitoral, para 2010, certamente deve passar por dois grandes personagens da política atual. O próprio Presidente do PT, que está dando as cartas na disputa que se avizinha. E o Governador Aécio Neves, respeitado por ambos os lados, que em uma eleição de feitio plebiscitário, como dizem querer os petistas, mesmo assim irá destacar-se a partir de um papel de moderação.

Lula, exercendo a função de mito político da redemocratização e atingindo um grau de popularidade tal que personaliza, como nenhum outro, um desejo do povo de transformação, está dando a última palavra em várias negociações entre aliados ou não aliados. Em um determinado momento, foi cogitado um terceiro mandato consecutivo para ele. Mas o assunto perdeu destaque e o PT, ao propor a candidatura da Ministra da Casa Civil, expos a idéia de uma eleição polarizada entre a atuação do atual governo e a do anterior (FH). Esta foi a solução que a direção do partido encontrou para conseguir dar unidade ao frágil discurso que mobilizaria a sua militância representada pelos delegados no Congresso petista. Em tempos de lulismo, o formato de plebiscito está guiando as discussões do PT. Estas, cada vez mais, tornam-se burocráticas no seu conteúdo e simplificadas em sua forma. Essa afirmação pode parecer contraditória, mas para uma agremiação que tem planos de vinte anos de poder não é. Fica mais útil submeter os debates a amarras internas. Isto tendo pouca ou, em alguns casos, nenhuma repercussão na mídia. Não que esta última não se interesse pelas deliberações do partido e que não noticie os fatos relativos a estas. Mas há um distanciamento, cada vez maior, entre o governo do PT e a chamada democracia liberal. Ou seja, há uma crise de representatividade no Brasil de Lula e partidos e Congresso Nacional estão cada vez mais fragilizados, relegados a um segundo plano. Lula, como era de se esperar, contribuiu imensamente para este quadro. A unanimidade da candidata do governo, como apareceu na imprensa na aclamação de seu nome no Congresso interno, mostra bem como têm sido simplificadas, ao extremo, as noções, para o público externo, que têm sido veiculadas. É claro que houve questões desenvolvidas no Encontro, mas o que mereceu destaque mesmo foi: o resultado final da esperada “opção” pela candidata. Até porque, quando se trata de tentar excluir o governo de FH da história dita progressista, o que importa mesmo é: submeter diferenças de orientação partidária ao resultado prático, tão intencionalmente pretendido, do lançamento da candidatura de Dilma. E tudo é feito, dizem alguns, na expectativa da transferência de votos de Lula para ela. Embora o ex-sindicalista saiba bem das experiências anteriores pelas quais teve que passar para alcançar a Presidência e, as quais, a sua Ministra não vivenciou até hoje. Essas farão falta a ela.

Aécio Neves tem feito questão de se pronunciar como político, de projeção nacional, de aproximação entre PT e PSDB. Isso causa desconforto quando a disputa eleitoral, para Brasília, parece ficar restrita a oposição acirrada de São Paulo, entre os dois partidos. O fato é que apenas no Estado mais rico, do Brasil, essa luta é “de morte”, sendo a coisa mais fácil encontrar Municípios, e até Estados, onde as duas agremiações estejam do mesmo lado. Principalmente o PT tem enormes dificuldades em aceitar uma aproximação com o PSDB, o que não é tão rigoroso, entre tucanos, quando olham para petistas. Uma prova é que não são poucos os social democratas, liderados por Serra e Aécio, que fazem questão de demonstrar admiração por Lula, um petista. Também não é proibido, dentro do PSDB, elogiar o Presidente do PT. Mas, imaginando que algum militante preferiu Jacques Wagner, o governador baiano do PT, para candidato ao Planalto, então ficou sim proibido de manifestar a sua escolha quando da maioria esmagadora do Congresso do PT. Wagner não é do PSDB, mas para quem não sabe, foi eleito em 2006 com apoio explícito de caciques tucanos do seu Estado. São Paulo não é Bahia. Bahia não é São Paulo. O PSDB em Minas Gerais, este sim, está mais sintonizado, na figura de Aécio, com os baianos, os Nordestinos ou com o Brasil que não é apenas paulista. A imagem de conciliador do governador mineiro remete, também, a este personagem que procura fazer a ligação com o Brasil que vai além do Sudeste ou do Sul. Que inclui outras regiões, como a nordestina, nos planos nacionais. Se , naquele Congresso, o nome de Wagner tivesse surgido, então teria ficado sem validade a estratégia, da direção, de polarização entre Lula e Fernando Henrique, nos seus respectivos governos. As duas legendas estariam mais próximas se representadas pelo governador do Nordeste. A candidata escolhida possui boa relação com Serra e Aécio, mas o lema, daquele Congresso, era o de não permitir a volta do governo do PSDB. Qualquer afinidade com os tucanos era inaudita, pois se o que os fazia unidos, naquele encontro, era exatamente o combate ao passado, representado pelo governo anterior do PSDB. Aécio também queria prévias, que também são uma forma de plebiscito, para a escolha entre ele ou Serra. Dizia que era preciso algo mais do que uma decisão fechada em um pequeno grupo de “caciques” tucanos. Mas até o seu plebiscito mostraria diferenças com o do PT e o seu Congresso, embora não quisesse competir com o do partido de Lula. Competição, sim, seria com Serra, enquanto Dilma foi candidata única, e exclusiva, no Congresso do partido dela. Portanto, competiu com ela mesma. O evento no tucanato seria diferente, pois mostraria uma alternativa à oposição exclusivista entre os dois partidos paulistas, esta última que prevaleceu e era necessária no plebiscito petista. Aécio, agora, está recolhido em seu Estado, diz que está cuidando da candidatura de seu sucessor, no governo de lá. Mas o seu papel será decisivo para a escolha dos novos ocupantes do Planalto, principalmente por ele recusar o jogo dos paulistas.

Colocado o cenário atual, bastante inspirado pelas pesquisas eleitorais, de um confronto entre Serra (PSDB) e Dilma (PT), mesmo assim é indispensável lembrar de Lula e Aécio. Os candidatos vêm acompanhados dos seus respectivos partidos. Propositalmente, os atuais Presidente e Governador de Minas embora façam parte direta do jogo, não têm uma legenda, aqui destacada, junto deles. Pode-se afirmar a “peemedebização” de Lula. E até lembrar das especulações, ocorridas até o ano passado e depois esquecidas, sobre a mudança, indo para o PMDB, de Aécio. Independente da afinidade que os dois têm com o partido de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves (avô de Aécio), se é que isto significa algo relevante para uma agremiação sem uma forma definida, eles são é políticos de muito talento.
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Guilherme Valle, sociólogo








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