Meditamos porque sabemos, com absoluta certeza, que devemos caminhar através de nossa própria esterilidade, e para além dela. Devemos transcender a esterilidade do sistema fechado, de uma mente puramente introspectiva. Sabemos, com claridade cada vez maior, que precisamos caminhar para além do isolamento, em direção ao amor. É curioso que a introspecção, a mente que se volta para si mesma, deva conduzir a essa esterilidade. Por que uma consciência centrada em si mesma deveria ser tão estéril? Suponhamos, por exemplo, que procuramos analisar alguma experiência nossa. A consequência quase inevitável, é a de que acabaremos nos observando na ação da observação. Quanto mais profundo o grau em que nos voltamos para nós mesmos, tanto mais complexo será o grau em que nos fixamos em nossa própria auto-consciência. O resultado se parece a estarmos presos em uma sala de espelhos onde, constantemente, acreditamos que o reflexo seja a realidade. Mas, tudo o que temos são imagens de nós mesmos.
Nesse ponto, é bom nos perguntarmos porque a meditação é tão diferente? . . . Todos nós chegamos a um ponto em que nos perguntamos: “o que é que estou ganhando com isso? O que é que isso me acrescenta?” [. . .] É nesse ponto que todos nós devemos fazer um ato de fé. Pode parecer ser a fé de adentrar as trevas abraçando a esterilidade, mas, não há meio de abraçá-la, exceto pelo completo abandono. Deverá ser um ato de fé completo. Em outras palavras, nos comprometemos com a meditação e com o mantra, como um meio de abandonar a auto-consciência. Com efeito, nos comprometemos a abandonar nossa própria esterilidade.
É nesse ponto que a esterilidade que experimentamos, se transforma na pobreza: a pobreza que abraçamos completamente. Aqui somos conduzidos àquela declaração de nossa própria pobreza que revela haver somente Deus, e que em Deus estão todas as riquezas e todo o amor. . . A esterilidade se torna pobreza: um estado de simplicidade completa, vulnerabilidade completa, e completo abandono a Deus e a seu amor. A auto-consciência cede lugar à consciência. Nos damos conta do que está além de nossos horizontes, daquilo que é, daquilo que Deus é: de que Deus é amor. A introspecção se transforma em visão que transcende o si mesmo, porque todas as coisas que enxergamos, enxergamos agora sob a luz divina, que se expande até o infinito. Enxergamos todas as coisas banhadas pelo infinito amor de Deus.
John Main OSB, O CAMINHO DO NÃO CONHECIMENTO (São Paulo, Ed. Vozes, 2009)
Fonte: WCCM.org.br
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