por Guilherme Valle, ofs
"O melhor é que a humanidade acabe com a guerra
antes que a guerra destrua a humanidade"
A crise internacional já não ocupa tanto as páginas dos jornais. Parece que o pânico já tem algum alívio. Mas o que vai surgindo mais claramente como resultado do susto que vai ficando pra trás é a forma como os governos atuaram neste período. Merecem destaque: primeiro, o Governo Bush, em seus últimos dias; depois, as medidas de Obama.
Nos EUA, após a quebra do banco Leman Brothers nos últimos meses de 2008, teve início o período mais dramático. Neste mesmo período, a candidatura de Obama ganha favoritismo e fica a promessa da retirada das tropas do Iraque. O governo Bush parece já havia se manifestado favorável. Mas considerando as sua guerras empreendidas que expandiram o seu eleitorado ficava sempre no ar a expectativa de outras frentes de batalha. O presidente em fim de mandato ainda dava algumas garantias para a indústria de armamentos. Obama representava o novo. O seu surgimento surpreendente e, vitorioso sobre a concorrente Hilllary Clinton, eliminou as certezas dos empresários das armas.
Após dois mandatos seguidos em que foram bastante privilegiados, inclusive sob o manto da reação ao ataque as torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, agora temiam perder espaço. O mercado conquistado no Iraque para a expansão de um regime armado democrático e ocidental deixaria de ser a última fronteira do Império norte-americano ainda em desenvolvimento. Ficou a sugestão das finanças globais ameaçando, como resposta ao vazio deixado pelas incertezas futuras, o desenvolvimento socioambiental das economias nacionais.
Com a chegada do novo governo, fica claro que em matéria de guerra e finanças globais algum conservadorismo haveria de perdurar por mais tempo. A prova foi a manutenção no cargo do Secretário de Defesa anterior, função importantíssima que responde pelos conflitos em que estão envolvidos os EUA. Se por um lado a tão fundamental disposição ao diálogo aflorou novamente e a preocupação com os direitos humanos retomou o seu merecido lugar de destaque nos discursos, mesmo assim deve ficar registrado o quão intocado permaneceu, ao menos nos primeiros meses do novo governo, o domínio imposto com sangue ao mundo árabe.
Quanto as finanças, deve ser lembrada a aparência de heterodoxia nas medidas anti-crise do novo presidente. O Estado interveio sem encontrar limites na economia e ser ortodoxo seria não interferir. Foram gastos centenas de bilhões de dólares para salvar grandes empresas privadas(as maiores). Mas muito pouco foi exigido das mesmas que não se viram tão obrigadas com a manutenção dos empregos. O que foi visto foi uma tremenda socialização dos prejuízos e uma “ação entre amigos” que assegurou, além de um zelo excessivo da parte das instituições financeiras para não emprestar dinheiro e bônus milionários para seus executivos, a manutenção de uma ordem concentradora de riquezas. Mais recentemente, em junho, foi anunciada a retirada das tropas americanas do Iraque. Agora os soldados não ocupam mais os centros urbanos se não forem convocados. Permaneceram acampados nas zonas rurais e áreas de fronteira. Em menos de 24 horas, pode conferir quem acompanha os jornais diariamente, o já esperado retorno ao Afeganistão foi noticiado com alarde. Pois iniciado o recuo lento e gradativo (porém efetivo) no Iraque, imediatamente quatro mil soldados são novamente empregados no Afeganistão. E então a “economia de guerra” não parou em nenhum instante e seus homens armados não descansaram jamais. Cada vez mais fácil é possível perceber que Obama não contrariou os interesses dos empresários de armas americanos quando não se esforçou para opor-se aos “mercados cativos” das suas indústrias. O Afeganistão foi uma prova. Embora mereça registro a retirada do Iraque como uma amostra de que, temporariamente, o potencial para a ampliação de mercados consumidores de armamento foi anulado.
A crise que levou medo a partir dos acontecimentos na América de Bush e que prossegue sob o comando de Obama está intimamente relacionada a indústria da guerra e aos seus mercados em processo de expansão. Porém, a guerra não é negociada em bolsas de valores e o petróleo costuma ser o produto afim que recebe cotação diária em bolsas por intermédio das suas sociedades anônimas. Daí talvez a dificuldade de tornar público um discurso de “economia de guerra” quando as análises econômicas atentam mais para o potencial lucrativo do petróleo do que para o destrutivo da guerra. Tanto um quanto o outro não são produtos sustentáveis. O melhor é que a humanidade acabe com a guerra antes que a guerra destrua a humanidade.
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