Olá gente querida, paz e bem!
Segue aqui a 2ª parte do texto sobre a dimensão sócio-econômica na perspectiva franciscana. Aguardo comentários...
Boa leitura!
Frei Jackson Barbosa, OFMCap
4 - Economia solidária: uma alternativa na valorização do ser humano
Os bispos católicos reunidos em Aparecida-SP, em 2007 afirmaram que apesar das deficiências e ambiguidades de alguns de seus membros, tem dado testemunho de Cristo, anunciado seu Evangelho e oferecido seu serviço de caridade principalmente aos mais pobres, no esforço por promover sua dignidade e também no empenho de promoção humana nos campos da saúde, da economia solidária, da educação, do trabalho, do acesso à terra, da cultura, da habitação e assistência, entre outros.
A Economia Solidária é uma nova forma de produção e de distribuição de riqueza centrada na valorização da pessoa, do ser humano e não do capital (acumulação de riqueza). Ela tem por base cooperativista e associativista, com a missão de produzir, consumir e comercializar os bens e serviços disponíveis na economia, tendo como foco a reprodução ampliada da vida.
Ela tem por principal característica a autogestão e autonomia de cada unidade de produção e pelos direitos iguais (igualdade) entre seus membros.
Ela surgiu no final do século XVIII, lá na Europa, mais precisamente na Inglaterra, a partir do surgimento de algumas cooperativas.
Vivemos hoje o apogeu da expansão demasiada do capitalismo, das grandes empresas, organizações, onde visam cada vez mais o lucro, tudo isso as custas do trabalho sofrido de muita gente.
O crescimento irrestrito da competição é ideológico e não encontra fundamento na História. Ao contrário, é possível afirmar que a maior parte da evolução da espécie humana foi caracterizada por associações de cooperação comunitárias, tais como apresentam, ainda hoje, certas tribos indígenas do Brasil e de outros continentes.
A Economia Solidária possui uma finalidade multidimensional, isto é, envolve a dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Todas essas dimensões são identificadas com o fransciscanismo, onde os agentes (franciscanos) estão sempre discutindo e debatendo esses temas que são atuais na nossa sociedade.
Além da visão econômica do trabalho e sua geração, renda e outras tantas, essa forma de economia tem uma perspectiva de construir um ambiente mais justo e auto-sustentável. É importante lembrar que ela não se confunde com o chamado “Terceiro Setor” que tem a proposta de ir, substituir o Estado (governo) nas suas obrigações, onde ele não está.
Na parte administrativa, ela exige a participação de todos, para se tornarem cidadãos e, assim, sujeitos do processo histórico.
No Brasil, a Economia Solidária começou a se destacar a partir das várias edições do Fórum Social Mundial, ocorrido inicialmente em Porto Alegre – RS, mas com uma proposta para todo o Brasil.
Existem vária experiências concretas. Vale citar aqui algumas formas de manifestação da Economia Solidária, para se perceber a magnitude e a diversidade do segmento de empreendimentos solidários: cooperativas, associações populares e grupos informais (de produção, de serviços, de consumo, de comercialização e de crédito solidário, nos âmbitos rural urbano); empresas recuperadas de autogestão (antigas empresas capitalistas falidas recuperadas pelos/as trabalhadores/as); agricultores familiares; fundos solidários e rotativos de crédito (organizados sob diversas formas jurídicas e também informalmente); agências de turismo solidário; entre outras.
Todas essas experiências e manifestações que hoje envolvem milhões de pessoas e de dinheiro verifica-se, em oposição ao desenvolvimento capitalista – que prioriza a competição, a acumulação e a busca de lucros sem limites –, uma forte ênfase na justiça social, na auto-realização e na proteção e conservação dos recursos do meio ambiente, todas essas propostas franciscanas.
5 - Considerações finais
Como foi visto, a diferença entre a vida dos frades e a vida de Assis foi fonte de dificuldades. Tais dissonâncias acabaram por questionar o sentido da opção feita pelos frades, isto é, a própria questão de sua identidade.
Francisco e seus amigos, em diferentes frentes de luta, desmontaram a tática inconsciente, mas soberana, de serem absorvidos pelas engrenagens sócio-econômicas. Recusaram a promoção social pelo trabalho, ignoraram a sedução do dinheiro, sofreram expropriações forçadas de seus bens, sem recorrerem às instituições legais. (FLOOD, 1986).
De algum modo, representou uma ruptura com o sistema em vigor em Assis.
E nós, afinal, que tipo de sociedade queremos? Que estilo de vida sonhamos e buscamos para nós e ao próximo? Em vez de estimularmos os nossos a competir, é nossa tarefa ensiná-los e exemplificar as possibilidades de cooperação, como opção de um estilo de vida alternativo.
Se não formos nós os atores, quem serão? E, se não for agora, quando?
REFERÊNCIAS
BOFF, Leonardo. Cristianismo: o mínimo do mínimo. Petrópolis: Vozes, 2011.
BRASILEIRO NETO, Joaquim; FREITAS, Ana Augusta Ferreira; NOVAES, Lucila Naísa Soares. Alianças estratégicas para inovações na construção civil em Fortaleza – o caso INOVACON. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO E ECONOMIA DA CONSTRUÇÃO, 3, 2003, São Carlos. Anais... São Carlos: UFSCar, 2003. p.1-12.
CONFERÊNCIA DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE, 5ª. Documento final, 2007, Aparecida. Anais... Aparecida: CELAM, 2007. p. 177-179.
FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL. Escritos de São Francisco. Brasília/Petrópolis: FFB/Vozes, 2009.
FLOOD, David. Frei Francisco e o Movimento Franciscano. Petrópolis: Vozes, 1986.
Clique aqui para ler a primeira parte do texto
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