quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
2º Celano, 199 e 200 - A sua devoção pelo Natal do Senhor e como desejou que nesse dia todos os pobres fossem socorridos
Mais do que nenhuma outra festividade, celebrava com inefável alegria o nascimento do Menino Jesus e chamava festa das festas ao dia em que Deus, feito menino, se amamentava como todos os filhos dos homens. Beijava mentalmente, com esfomeada avidez, as imagens do Menino que o espírito lhe construía, e, d’Ele entranhadamente compadecido, balbuciava palavras de ternura, à maneira das crianças. E o seu nome era para ele como um favo de mel na boca.
Um dia, estando os irmãos a discutir se poderia ou não comer carne, dado que o Natal, esse ano, caía à sexta-feira, respondeu Francisco a frei Morico: «Irmão, é um pecado chamar dia de Vénus* ao dia em que nasceu por nós o Menino. Desejaria – acrescentou – que em semelhante dia até as paredes comessem carne; mas, como não é possível, sejam ao menos untadas com gordura».
Queria que nesse dia os ricos dessem comida abundante aos pobres e famintos, e que os bois e jumentos tivessem mais penso que o habitual. «Se eu falasse com o Imperador – dizia –, pedir-lhe-ia que promulgasse um édito geral para que todos os que pudessem fossem obrigados a espalhar trigo e outros cereais pelos caminhos, para que, em tão grande solenidade, as avezinhas, sobretudo as irmãs cotovias, comessem com abundância». Não conseguia reprimir as lágrimas, ao pensar na extrema pobreza que padeceu nesse dia a Virgem Senhora pobrezinha.
Uma vez, estando sentado à mesa a comer, e tendo um irmão recordado a pobreza da bem-aventurada Virgem e de seu Filho, imediatamente se levantou a chorar e a soluçar, e, com o rosto banhado em lágrimas, comeu o resto do pão sobre a terra nua.
Por isso chamava à pobreza virtude real, pois refulge com tanto esplendor no Rei como na Rainha. E como os irmãos lhe tivessem perguntado um dia, em Capítulo, que virtude tornaria alguém mais amigo de Cristo, respondeu como quem confia um segredo do coração: «Sabei, irmãos, que a pobreza é um caminho privilegiado para a salvação. As suas vantagens são inumeráveis, mas muito poucos as conhecem.
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* Veneris dies (venerdi, em italiano), dia consagrado a Vénus. Tal é, com efeito, o nome do quinto dia da semana segundo a etimologia pagã, em uso na maioria dos países ocidentais. Morico deveria empregar o termo eclesiástico ou litúrgico de feria sexta (sexta-feira).
Fonte: Fontes Franciscanas da Editorial Franciscana Portuguesa
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