Fred Félix, ofs
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Dentre os símbolos usados pelos
cristãos, há dois que hoje, dia dezessete de novembro, tomam um significado
todo especial. São o pão e as rosas. Mas por que nesta data eles se tornam
importantes? Pois neste dia celebramos Isabel da Hungria (ou Elizabeth da
Turíngia), padroeira da Ordem Franciscana Secular - OFS, que possui entre os ornamentos
de sua figura o pão e as rosas.
A função de um padroeiro é ser
arquétipo, mensagem para um determinado grupo de fiéis reunidos. Os franciscanos
seculares têm a honra de possuírem dois padroeiros, Santa Isabel e São Luís,
além de outras figuras inspiradoras (Francisco, Clara, Lúcio, João XXIII, etc.).
Ambos, membros da realeza, casados, pais e filhos, detentores de obrigações,
tomaram o hábito e o cordão dos penitentes e fizeram de suas vidas chamas
flamejantes do amor divino. Luís, cavaleiro e rei, apresenta-nos as duas coroas,
de ouro e de espinhos, lembrando que a ressurreição é precedida pela paixão e o
ápice da santidade só se alcança aceitando, atravessando e superando a cruz. Mas
hoje é dia de Isabel, que carrega em seu vestido pão e rosas.
Estes elementos do ícone de
Isabel se dão por causa de uma lenda, comum para diversas santas da idade
média, por isso vemos em outras os mesmos elementos (a exemplo de santa Isabel
de Portugal), na qual Isabel ao levar pães aos pobres do reino, ao ser surpreendida
pelo marido (landegrave da Turíngia) e questionada sobre o conteúdo que
carregava dentro do manto disse serem rosas que havia saído para colher.
Obrigada à mostrar o conteúdo que carregava, ao abrir o manto se surpreendeu
com a transformação dos pães em rosas, assim como havia dito. Linda lenda!
Contudo há nela mais que o recado de se levar pão aos pobres. Recado esse logo
depreendido de quem lê ou ouve a história. Há toda uma imagem a ser explorada,
que traz em seu centro os traços da própria figura de Isabel.
O pão é fruto do trabalho do
homem, como bem afirma a oração feita pelo sacerdote durante a elevação da
espécie no altar: “Recebe Senhor este pão,
fruto do trabalho do Homem, desde a seara até à Tua mesa onde se vai
transformar no Teu Corpo, alimento que sacia eternamente a nossa fome”. Pão
é alimento universal, comida básica. Quem se alimenta dele não passa fome. Ao
mesmo tempo, o pão não é simplesmente colhido, ele é fruto do labor. Se ara a
terra e semeia o trigo. Se acompanha o ciclo da natureza até que o trigo possa
ser colhido. Depois transforma-se o trigo em farinha, esta em massa que é
sovada e trabalhada antes de ir ao forno. Não se faz pão sem o trabalho da
terra e do suor. No pão vemos o papel do homens como semelhança de Deus em seu
ofício de Criador. Em conjunto com a natureza se misturam elementos até chegar
no alimento. Alimento este que, normalmente, é compartilhado, dificilmente é
consumido sozinho. O pão reúne pessoas em torno da mesa! E além disso é acessível.
Com apenas um real a pessoa consegue comprar um pão e assim obter uma refeição.
Há toda uma bela mística que envolve a figura do pão.
Já em relação às rosas, podemos
dizer que não há melhor representação da imagem feminina. Elas realçam a
delicadeza forte e firme da mulher, tão presentes em Isabel, que largou o
palácio e a riqueza para fundar e morar em um hospital. A rosa recorda a própria
Maria de Nazaré, rosa mística da cristandade. O florescer da rosa é também
metáfora da evolução espiritual do ser humano, que se desabrocha pela graça da
aproximação ao seu Criador, sol de sua vida e existência. Inclusive, no estudo
da espiritualidade aprendemos que o espírito é por natureza feminino. Fácil de
perceber, a alma é feita de ternura e sensibilidade, é materna. No judaísmo, as
mulheres não cumprem o mesmo número de obrigações que os homens necessitam cumprir.
Segundo alguns rabinos é porque a mulher está mais próxima de Deus, pelo fato
de ser semelhança do espírito. Na espiritualidade o espírito está sempre em
busca do amado, que nos recorda outra função das rosas, que é presentear e
demonstrar o amor sentido. Como é bom receber rosas! Há também a fisiologia da
planta, que possui em seu corpo espinhos, mas desabrocha em perfumada e bela
flor, como na vida e na canção: “o importante é a rosa, creia em mim”.
Pão e rosas, em conjunto, unidos
e fundidos, são a representação perfeita da mulher Isabel. Feminina e gentil
nos gestos, corajosa e forte nas atitudes. Alma que se abre em flor através da
via do pão caridade e da contemplação ardente e apaixonada com um Deus fonte da
vida. Comunhão com o próximo que conduz à eucaristia mística do Amado Esposo.
Interessante observar que Pão e
Rosas é também um movimento social e um filme. O primeiro é formado por um
grupo de mulher que surgiu em março de 2009 em países latinos e é integrado ao movimento
latino-americano Pan y Rosas na busca pelo direito das mulheres. O nome do
movimento é uma homenagem a operárias norte-americanas de uma fábrica têxtil em
Massachusetts, que no começo do século XX protagonizaram uma importante greve
na luta pelos seus direitos e levavam como bandeira “o direito ao pão, mas
também as rosas”. O filme, uma produção de 2000, é sobre duas imigrantes
mexicanas, faxineiras de um prédio comercial nos EUA, que acabam conhecendo um
ativista norte-americano apaixonado pela causa dos oprimidos, que conduz elas a
uma guerrilha contra seus patrões. Contudo a luta coloca elas em risco em
relação a diversas coisas, inclusive suas famílias e a própria permanência no
país.
Percebemos que na junção do pão
com as rosas há sempre algo de “subversivo”, de mudança e de luta. Esta é
Isabel, que incomodada com a situação da população vai ao encontro dela e
promove a mudança através de gestos gentis e vigorosos. Conrado de Mamburgo,
seu confessor, testemunha isso em carta:
“Tinha o costume
de, duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, visitar pessoalmente seus doentes,
e chegava mesmo a tratar com as próprias mãos os mais repelentes. A alguns
deles alimentava, a outros preparava o leito, a outros até carregava nos
ombros. Assim realizava muitas obras de bondade. Em tudo isto seu marido, de
feliz memória, não se mostrava contrariado. Contudo, após a morte deste,
tendendo para a máxima perfeição, rogou-me com lágrimas que lhe permitisse ir
mendigar de porta em porta.
Numa
Sexta-feira Santa, desnudados todos os altares, em uma capela de seu castelo
onde acolhera os frades franciscanos, colocou as mãos sobre o altar e, na
presença de umas poucas pessoas, renunciou à própria vontade e a todas as
pompas mundanas e a tudo quanto o Salvador no evangelho aconselhara abandonar.
Feito isto, vendo que poderia deixar-se absorver pelo tumulto do século e
glória mundana, naquela terra onde vivera com esplendor em vida do esposo,
seguiu-me contra minha vontade a Marburgo. Nesta cidade construiu um hospital para doentes
e necessitados, chamando à sua mesa os mais miseráveis e desprezados.
Além desta atuação
operosa, digo-o diante de Deus, raramente vi mulher mais contemplativa. Algumas
pessoas e mesmo religiosos, na hora de sua oração particular, viram muitas
vezes seu rosto brilhar maravilhosamente e como que raios de sol jorrarem de
seus olhos.”
Como franciscanos seculares temos
um grande tesouro e honra em ter semelhante mulher como padroeira, patrona e
paraninfa de nossa escola de perfeição cristã. Que possamos nós, com a graça de
deus, sermos dignos de sermos protegidos por tão venerável mulher.
Santa Isabel da Hungria, rogai
por nós nestes tempos de trabalho e de luta na causa do Reino de Deus, de justiça
e de amor. Que assim seja! Amém.
ORAÇÃO ▪ Senhor, que destes a Santa Isabel da Hungria o dom de
conhecer e venerar a Cristo nos pobres, concedei-nos, por sua intercessão, a
graça de servirmos com caridade sem limites os pobres e os atribulados. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, em unidade com o Santo Espírito de Amor. Amém.
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