Sucessão Presidencial: mais do mesmo

“Os dois termos de uma dicotomia podem ser definidos um independentemente de outro,ou então apenas um deles é definido e o outro ganha uma definição negativa” Norberto Bobbio

Avizinhando-se a sucessão presidencial, fica cada vez mais evidente a intenção de uma minoria privilegiada que domina esse país em convencer o eleitor brasileiro que a corrida ao planalto tem uma única e absoluta disputa : PT x PSDB. Todos o meios de comunicação comprometidos com o status quo são unânimes em afirmar que o sufrágio de outubro próximo terá um caráter plebiscitário, ou seja, o cidadão deve avaliar e comparar a Era FHC com a Era Lula. Partindo deste ponto, o contribuinte optará, silogisticamente, pela retomada de um projeto, ou pela continuidade de outro. No entanto, como veremos, trata-se de uma falsa dicotomia, de uma mentirosa ideia que vem sendo vendida ao cidadão contribuinte.

É o professor Norberto Bobbio quem nos leciona: “Os dois termos de uma dicotomia podem ser definidos um independentemente de outro,ou então apenas um deles é definido e o outro ganha uma definição negativa”. Neste sentido, poderíamos dizer que a imprensa nativa tenta nos fazer acreditar que o governo do PT de Lula e Dilma , opõe-se radicalmente ao que foi feito durante os 8 anos de governo do PSDB de FHC e Serra; sendo essa situação, inclusive, uma perfeita representação de tese e antítese. No entanto, em termos substanciais, as diretrizes programáticas essenciais do “Avança Brasil” do tucanato, tiveram mantidas suas linhas gerais no “Brasil, um país de todos” petista. Sendo assim, temos o governo do presidente Lula como uma espécie de mais do mesmo dos anos de entreguismo capitaneado por Fernando Henrique Cardoso. Desde a odiosa política de juros altos como antídoto à inflação até os tímidos investimentos em educação , os dois modos de governar se assemelham. Talvez, reais diferenças, somente no que tange à política externa. O atual mandatário nacional agiu com acerto ao reconhecer o caráter popular e revolucionário dos governos de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, bem como ao refutar e combater o Golpe de Estado em Honduras. No entanto, fora isso, Luís Inácio Lula da Silva agiu de forma maquiavélica com os pobres, enterrando o Fome Zero , utilizando-se do bolsa-família como moeda de troca eleitoreira. Em outras palavras, Lula escravizou os desvalidos desta vida ao negar-lhes condições de emancipação cidadã, forcando-os a se tornarem esmoleres do Estado.

Ao contrário do que dizia com muito humor o maestro Tom Jobim, não considero o aeroporto a melhor saída para o Brasil. Na verdade, o caminho é uma estrada que ainda precisa ser construída e pavimentada. Heloísa Helena e o PSOL tentaram reconstruir a esquerda brasileira; porém, mais uma vez o dogmatismo ideológico impediu a unidade, e o partido, totalmente dividido, acabou por lançar o honrado jurista Plínio de Arruda Sampaio como candidato à Presidência. Entretanto , ficou evidente que Plínio e seu nome são bem maiores que sua candidatura, que ao invés de representar um queixume coletivo, é fruto de um esquerdismo míope e puritano. Neste contexto, resta-nos Marina. A candidata que o establishment deixa existir para que pensemos que vivemos a plenitude de uma democracia participativa. Malgrado alguns erros, Marina Silva seria uma boa Presidente, pois parece ter disposição em defender, efetivamente, o direito dos pobres. Inclusive, sua biografia, teoricamente, nos garante isso. Todavia, Marina não vai vencer, porque não tem chances de lutar contra o poder financeiro do capital especulativo internacional. E como nos disse o saudoso Fausto Wolff em sua última crônica: “O poder ama a si mesmo e aos poderosos. É tão implacável na sua injustiça que consegue convencer mais de 100 milhões de brasileiros adultos de que devem escolher entre o algoz da esquerda e o da direita. E nada acontece.”

Infelizmente, proféticas palavras do grande escritor e jornalista!

Autor: Thiago Damato

Thiago Damato é secretário Fraterno da Juventude Franciscana  em Niterói/RJ

As idéias expressas pelo autor não necessariamente condizem com todas as idéias dos colaboradores deste blog. O Peregrinos & Forasteiros preza a tolerância religiosa e política acreditando que através do diálogo somos mais cristãos e cidadãos.