Trabalho, Francisco e Fraternismo

AP Photo/Elise Amendola

por Thiago Damato

No sistema econômico-social vigente, o trabalho tem sido instrumento de exploração e opressão, perdendo sua gênese humanista e edificante. Em pleno século XXI, ainda convivemos com a praga do trabalho escravo, infantil e ilegal. São estruturas injustas que tratam os homens como máquinas, colocando produção e o lucro, acima da proteção da dignidade humana. Num viés franciscano o trabalho é condicionante essencial do fraternismo e da concepção de comunhão universal. Nas palavras do teólogo menor Leonardo Boff : ‘’É participação humilde e dolorosa no ato criador de Deus”

O Altíssimo nos brindou com a criação perfeita de nossa querida Casa Comum e, certamente, é dever ético sermos administradores solidários de nossa Terra. Para isto, é preciso que as atividades laborais não tenham tão somente uma perspectiva individualista, mas também coletiva e comunitária. De fato, o serviço e a doação ao próximo, são as palavras base para aqueles que escolheram carregar a cruz, e lutar pelo projeto do Reino. Francisco nos deixou preciosos ensinamentos fraternais, que deveriam ser aplicados a toda família humana, sobretudo no mundo do trabalho. Dentre tantos escritos, cito o item 14 da Regra não-bulada:‘’ E cada qual ame e alimente a seu irmão como a mãe ama e nutre a seu filho; e o Senhor lhe dará sua graça.” Como seria bom se tivéssemos homens públicos que levassem o Estado a ser pai e mãe de todas as pessoas, principalmente em nosso país, que é uma nação de desempregados.

Mas não percamos a fé e a esperança. Graças ao Senhor Deus, atualmente temos na América Latina governos populares, onde o deserdados desta vida voltam a ser os protagonistas do processo histórico de transformação. Venezuela, Bolívia , Equador e Paraguai, vêm há algum tempo combatendo à ofensiva do capital sobre o trabalho. Ademais, recentemente tivemos a eleição de Mauricio Funes para a presidência de El Salvador . O novo mandatário disse que deseja ter como guia de seu governo “a opção pelos pobres”, sob a inspiração da memória do saudoso monsenhor Orcar Romero.

Deste modo, temos mais esta pátria irmã levantando a bandeira da igualdade radical para todos, como um dia sonhou o pobrezinho de Assis. É o retorno das antigas utopias igualitárias, da qual todo cristão-franciscano é convidado a participar.