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Assim, no espírito das Bem-aventuranças, se esforcem para purificar o coração de toda inclinação e avidez de posse e de dominação, como peregrinos e forasteiros a caminho da casa do Pai. - Regra OFS nº 11

segunda-feira, 11 de março de 2013

O COLÉGIO DOS CARDEAIS - Pe. José Artulino Besen


O cardinalato não é um sacramento: é um serviço. Inicialmente, a palavra cardeal era adjetivo e se referia a bispos, presbíteros e diáconos que desempenhavam funções de apoio aos fiéis em Roma. Assim, se dizia diácono-cardeal, bispo-cardeal, presbítero-cardeal. Cardeal significa, indica o que está ligado ao centro, como os pontos cardeais, as virtudes cardeais. O centro, no caso, é Roma. Séculos mais tarde, a palavra tornou-se substantivo, invertendo a ordem. No século XI, existiam em Roma três grupos de cardeais: os cardeais-bispos, titulares das sete (depois seis) dioceses vizinhas de Roma; os cardeais-presbíteros, responsáveis pelas quatro basílicas patriarcais em número de sete por basílica, no total vinte e oito; os cardeais-diáconos, cujo número foi fixado em dezoito pelo ano de 1100, que lêem o Evangelho em igrejas romanas.

Sua importância como auxiliares do Papa na administração da diocese de Roma se aprofunda com o tempo e é proporcional ao desenvolvimento da responsabilidade universal do papa.

Em Roma, como em outros lugares, segundo a norma o bispo deveria ser escolhido pelo povo e pelo clero. Em 1059, o papa Nicolau II confiou aos cardeais-bispos a eleição papal, com a missão de convencer os outros cardeais e o clero de sua escolha. O Concílio Lateranense III (1179) transformou todos os cardeais – e somente eles – em eleitores papais exigindo uma maioria de dois terços de votos.

Progressivamente, os cardeais das três ordens, absorvidos na administração da Santa Sé passaram a habitar na Cúria romana, e suas dioceses, títulos e diaconias não são mais do que um encargo nominal-simbólico.

Leão IX, no século XI, introduziu no Colégio dos Cardeais pessoas de fora de Roma, sobretudo alguns monges, para auxiliá-lo na reforma da Igreja. A partir do século XIII, o cardinalato é também conferido a bispos estrangeiros para associá-los ao governo pontifício, mas permanecendo em suas dioceses.

O Colégio cardinalício não ficou livre de abusos, quando o título passou a significar prestígio e ganhos financeiros. No século XIV alguns príncipes pediram essa dignidade para parentes ou amigos e os papas a distribuíram com fartura à própria família (nepotismo). Houve cardeais leigos (o último, no século XIX, o alemão Teodolfo Mertel) e poderosos como os cardeais Mazarino e Richelieu, primeiro ministro franceses.

O Concílio de Trento (1545-1563), que reformou a Cúria romana, assumiu uma posição favorável ao prosseguimento da internacionalização do Sacro Colégio. Criou dois tipos de cardeais: os cardeais da Cúria, presentes em Roma para garantir o bom andamento das Congregações e órgãos da Santa Sé, e os cardeais-bispos que residem em suas próprias dioceses.

O título de cardeal-presbítero freqüentemente era dado a bispos residentes fora de Roma. O de cardeal-diácono, dado simultaneamente a padres, diáconos e também a clérigos não diáconos. Em 1919 Bento XV decidiu que todos os cardeais fossem, ao menos, sacerdotes. Em 1962 João XXIII decretou que todos fossem sagrados bispos, o que não foi observado pelos papas seguintes, ao nomearem cardeais acima de 80 anos, visto como um gesto de predileção pessoal ou de apoio a um teólogo (Von Balthasar, Yves Congar, D. Chenu, J. Daniélou).

A MISSÃO DOS CARDEAIS

A criação de cardeais é prerrogativa do papa, que os anuncia no Consistório (reunião de cardeais). Seu número sofreu muitas variações. No período do Grande Cisma (1378-1417) aumentou bastante, tanto que os Concílios do século XV pediram que não ultrapassasse o limite de 24 cardeais.  Paulo IV, em 1555 fixou em no máximo 40, e Sisto V, em 1586 elevou o número a 70, uma referência aos 70 anciãos de Israel. João XXIII, em 1959, aumentou para 85. Paulo VI estabeleceu que os cardeais, ao completarem 80 anos deixem de ser eleitores, e que o número de participantes do conclave não seja superior a 120. Em 24 de fevereiro de 2013 eram 218 os Cardeais, dos quais 116 os eleitores. O aumento no número e proveniências enriqueceu o Colégio cardinalício com a presença de grandes bispos e deu ao papa colaboradores preciosos.

A partir do século XII, os cardeais desempenharam funções essenciais: a direção da Igreja no período de vacância por morte ou renúncia do papa; assistir ao papa em sua atividade diária, dirigindo os diversos órgãos da Cúria romana ou dicastérios (congregações, ofícios, secretariados), ou desempenhando missões especiais na qualidade de legados pontifícios.

Sua missão mais visível é eleger o papa no Conclave (de duas palavras latinas que querem dizer fechado à chave, com-chave). A decisão de “fechar os cardeais à chave” remonta à eleição de Clemente IV (1265-1268) em Viterbo. Após três anos de tentativas inúteis, os habitantes de Viterbo trancaram os cardeais e os deixaram a pão e água a fim de obrigá-los a logo encontrar um sucessor para a Cátedra de Pedro. Como esse método foi eficaz, o eleito Gregório X tornou-o obrigatório no Concílio de Lião, em 1274. A legislação prevê que o papa tenha 2/3 dos votos. João Paulo II alterou-a, possibilitando a eleição por maioria simples após o 34º escrutínio. Bento XVI decretou o retorno dos 2/3, para evitar a divisão na Igreja.

Hoje, o motivo principal desse isolamento dos cardeais no conclave não é apressá-los, e sim, garantir a independência frente a influências externas.

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